Imaginário Moderno: Alfredo Ceschiatti, Athos Bulcão, Bruno Giorgi, Burle Marx, Candido Portinari, Flávio Damm, Joaquim Tenreiro, Marcel Gautherot, Thomaz Farkas
Ribeirão Preto
Abertura:
15 de junho, 2018 / 11h–16h
Período de visitação:
15 de junho - 21 de julho, 2018
A Galeria Marcelo Guarnieri apresenta, de 15.06 a 21.07, a exposição Imaginário Moderno. A coletiva reúne obras de 9 artistas que se envolveram, por meio de suas produções, com a construção da cidade planejada de Brasília e fizeram parte da elaboração do que hoje podemos chamar de um imaginário moderno. Na biografia de todos eles é possível constatar uma forte preocupação com as questões sociais e políticas que se desdobrava não só em uma participação ativa na vida pública, mas também na produção de obras que buscavam uma integração mais ampla com todas as camadas da população. Uma das possíveis maneiras de abordar esta exposição é apresentá-la dividida em três grupos de artistas.
O primeiro grupo, formado por Joaquim Tenreiro, Alfredo Ceschiatti e Bruno Giorgi, nos permite pensar naqueles objetos destinados a dividir os espaços de convivência com as pessoas: esculturas para praças, para jardins, para interiores e até mesmo mobiliários. Caminhar pelos prédios oficiais da cidade de Brasília é encontrar, a todo momento, algum desses objetos produzidos por qualquer um dos três artistas. É de Bruno Giorgi a escultura Os Dois Guerreiros(popularmente conhecida como Os Candangos), icônico monumento localizado na Praça dos Três Poderes que homenageia dois operários que morreram soterrados na construção de Brasília. Dele também Meteoro, símbolo do Ministério das Relações Exteriores, pesa 50 toneladas mas parece flutuar sobre o espelho d’água que circunda o edifício. Alfredo Ceschiatti, assim como Giorgi, era um colaborador constante de Oscar Niemeyer, sua escultura Justiça, localizada em frente ao prédio do Supremo Tribunal Federal, é outro importante ícone que povoa o nosso imaginário. Joaquim Tenreiro, por sua vez, teve um papel relevante na transformação da indústria de móveis do país ao incorporar em suas elegantes peças aspectos do trançado e cestaria indígenas ou da tradição do mobiliário colonial brasileiro, como a palhinha e o jacarandá. Alguns de seus móveis preenchem ainda hoje os gabinetes e salões do Palácio do Itamaraty em Brasília.
Podemos pensar então em um segundo grupo formado por Roberto Burle Marx, Athos Bulcão e Cândido Portinari. Todos eles desenvolveram obras em colaboração com Oscar Niemeyer ou Lucio Costa e é possível vê-las muitas vezes juntas integrando uma mesma edificação, complexo ou ambiente: o jardim de Burle Marx e o painel de azulejos de Bulcão no Salão Verde do Congresso Nacional ou os murais de Portinari no Palácio Capanema integrados ao paisagismo de Burle Marx, por exemplo. Havia uma preocupação pela dimensão pública de seus trabalhos, no sentindo de permitir que fossem apropriados e incorporados pelas pessoas, estimulando uma relação de pertencimento entre o cidadão comum e a cidade e suas arquiteturas. Os azulejos de Bulcão apresentados na exposição possuem o mesmo padrão daqueles que formavam o mural, projetado em 1972, da sauna da sede social do Clube do Congresso em Brasília, demolido em 2009. O alcance poético e político de seus murais azulejares não se restringia aos “usuários” ou “espectadores” da obra, mas atingia também aqueles que formavam a mão de obra da indústria civil. Bulcão sugeria que os padrões de seus painéis fossem compostos de maneira arbitrária, não havia regras, sendo assim, entendia que o azulejador não era um mero executor, mas também o co-autor do trabalho. Já Burle Marx, embora seja mais conhecido por seus projetos paisagísticos, sempre desenvolveu uma produção em pintura, chegando até a ser aluno de Portinari na Escola Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro. Não só a pintura e o paisagismo, mas também a escultura, tapeçaria e joalheria faziam parte de um extenso corpo de trabalho de Burle Marx, desdobramentos de suas pesquisas sobre os impulsos e configurações das formas geradas pela natureza e pelo homem. Portinari, por sua vez, estava interessado pela dimensão social de sua obra não só por meio de sua circulação em espaços públicos ou edifícios do governo, mas também por meio da representação visual da realidade dos grupos das camadas mais populares.
Semelhante preocupação pela representação e representatividade podemos encontrar nas fotografias dos artistas que compõem o terceiro grupo da exposição. Flávio Damm, Marcel Gautherot e Thomaz Farkas, fotógrafos que acompanharam de perto, quando não contribuíram, para o processo de imaginação e formação de um Brasil “moderno”. Essa modernidade passava não só pela construção de Brasília, por exemplo, mas também por um profundo interesse pelo registro e preservação de costumes e tradições populares. Foi o caso de Gautherot, que participou da fundação do Musee de l’Homme em Paris e no Brasil realizou trabalhos de documentação fotográfica para o recém-criado Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Sphan). Registrou costumes, ofícios, moradias, rituais, procissões e festas populares de diversas regiões do país. Em entrevista de 1989 à pesquisadora Lygia Segala, o fotógrafo destacou duas de suas séries: a do bumba meu boi maranhense e a do reisado alagoano, esta considerada por ele a “série mais completa, excelente mesmo”. Flávio Damm, nos 10 anos que integrou a equipe da popular revista O Cruzeiro, realizou fotos e reportagens históricas que até hoje compõem a memória de quem viveu a década de 1950 no Brasil. Já Thomaz Farkas registrou o acelerado processo de modernização da cidade de São Paulo na década de 1940 ao mesmo tempo em que participava dos debates sobre uma estética específica para a fotografia, com diferentes enquadramentos e pontos de vista. Suas fotografias variavam entre composições geométricas abstratas e retratos mais humanistas e documentais, interessados pelos modos de vida das minorias sociais e econômicas de um país que, apesar de tanta pobreza, se mostrava promissor.