Helena Carvalhosa:
Pintar é como arrumar flores

SP-Arte Rotas

Stand D8

27–31 de agosto, 2025

ARCA
Av. Manuel Bandeira, 360, São Paulo, Brasil

Pintar é como arrumar flores
não há porque ter medo.
As flores, por si só
estão lá à espera.
Basta olhar
e se dispor
juntar cabos compridos
com folhas miúdas
o branco e todas as cores
ou só rosas
as folhas diversas
umas como as do antúrio
poucas outras mais encorpadas
servem como fundo.
Assim temos um quadro.

Helena Carvalhosa, julho 2025

Para a SP-Arte Rotas 2025, a Galeria Marcelo Guarnieri tem o prazer de apresentar Pintar é como arrumar flores, um projeto solo da artista Helena Carvalhosa (1938, São Paulo). O stand reúne um conjunto de pinturas e cerâmicas produzidas pela artista ao longo do último ano, que evidenciam sua íntima relação com a poesia. Carvalhosa dá forma às suas imagens também através da palavra, reanimando memórias afetivas e reconstruindo, dentre outras arquiteturas, espaços domésticos e jardins. Suas pinturas de jarros de flores, galhos, cadeiras e passarinhos se confortam nas pequenas dimensões de suas telas, assim como os objetos com os quais escolhe trabalhar: coisas que podem caber dentro das mãos. A artista se vale do ritmo de seus poemas, por vezes também curtos, para pensar em sínteses: figuras que se resolvem em pinceladas soltas, descrições abertas, assemblages que rimam. “Eu pinto um ar que me habita”, define a artista.

Antes de chegar na pintura, Helena muitas vezes passa pelo desenho. São dois momentos distintos de sua prática que convivem em harmonia. Esse processo a permite fazer um estudo atencioso sobre os usos da cor, distanciando suas composições da necessidade pela imagem e dotando-as de maior relevância plástica. Desse modo, a artista pode partir de um mesmo desenho para variar a combinação cromática, produzindo duas, três ou quatro pinturas diferentes através de uma mesma estrutura gráfica. Os motivos que estão ali – a paisagem, a natureza morta – podem nos guiar na leitura das obras, mas os verdes, lilases e azuis em tons mais rebaixados – que por vezes são assustados por laranjas e amarelos – são soberanos.

Também há algo em seu modo prolífico de criar que transmite a leveza e liberdade de sua poética. A artista leva a prática da pintura como um exercício diário, mas “com muita alegria e persistência”, diz. É essa mesma inquietude que se manifesta no amálgama das formas, das coisas do mundo que ao fundirem-se umas nas outras em suas pinturas, parecem estar em movimento. Um boi, que é terra e que é montanha. Um graveto que é tronco, que é talo, folha e jarro. Uma flor que é sombra. Um rio que é caminho de barro e paisagem de um planeta vermelho. Nas cerâmicas, esse modo de fazer é similar. A partir da lógica da assemblage, articula volumes e as texturas em formas que se expressam por suas qualidades plásticas: elas não têm rosto, são híbridos, sujeitos e objetos.

Helena Carvalhosa nasceu em 1938 em São Paulo, onde vive e trabalha. Iniciou seus estudos em artes na Escola Brasil em 1970 e em 1977 formou-se em Artes Plásticas pela FAAP (Fundação Armando Álvares Penteado). Ainda no final da década de 1970 estudou na New School of Arts, em Nova York e desde os anos 1980 vem fazendo cursos e sendo orientada por artistas como Hélio Cabral, Nelson Nóbrega, Paulo Pasta e Sara Carone. Sua produção transita entre a pintura, a escultura, o desenho e o objeto.

O início de sua carreira foi marcado pela participação na “Mostra de Escultura Lúdica” em 1979 no MASP, que contou com artistas como Palatnik, Tomie Ohtake, Leon Ferrari e Guto Lacaz. Na ocasião, a artista expôs “Estruturas Mutantes”, duas peças formadas por tecido, ferro e isopor que remetiam à forma de um casulo e que podiam ser vestidas e transformadas pelo público. A escolha por materiais acessíveis, de uso cotidiano, é ampliada em “O objeto reinventado”, exposição que ocorreu no SESC Pompeia em 1992 e que reuniu assemblages formadas por objetos descartados, já gastos por outros usos. Sobre aquela produção de Carvalhosa, o crítico Pietro Maria Bardi escreveu: “Com o máximo de simplicidade, Helena demonstra, através da combinação de formas, que aquilo que está ao nosso redor pode ser motivo de fruição estética”. No ano seguinte participou da coletiva “Objeto. Objeto-Livro. Fotografia” na Pinacoteca de São Paulo. Segundo a crítica Maria Alice Milliet, em texto de 1993: “Os objetos de Helena pertencem ao universo feminino da sedução, do jogo de aproximações que transforma o banal em inédito, do encantamento surpreendido no arranjo das coisas inúteis cuja gratuidade retém um frescor derivado da fantasia. Atestam a possibilidade de criar a partir do encontrável, do desprezível, de restos e sobras.” Em 1998, Carvalhosa retorna à Pinacoteca para ocupar um dos “vãos livres” do edifício com “O Caminho: Instalação com Flores”, composta por móveis antigos, fotos de família, vasos, quadros e peças em porcelana, propondo uma reflexão sobre as fases da vida e a passagem do tempo.

Em mais de quatro décadas de carreira, participou de inúmeras mostras individuais e coletivas, em instituições como: MASP, SESC Pompeia, Pinacoteca do Estado de São Paulo, Museu Afro Brasil, SESC Belenzinho e Centro de Arte Dragão do Mar. Desenvolveu curadorias para o SESC São Carlos, SESC Santana e Museu da Casa Brasileira.